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12.9.10

Os tridentes

De volta a casa, de volta ao jardim, de volta ao tridente.
Este projecto tem caminhado de forma aparentemente mais lenta. No começo de cada nova etapa, a exigência vai aumentando e surgem alterações à ideia inicial. Depois da reconstrução da base no ano passado, no último inverno voltei a olhar para a árvore. A intenção era de fazer vários auto-enxertos de ramos para compor a estrutura primária. Mas havia uma secção a meio do tronco que não me agradava. Muito recta e cheia de cicatrizes. Aqui fica a imagem dessa altura para se perceber melhor:
Por isso, depois de ponderar, o projecto seria recomeçado abaixo dessa zona. Mas como havia, acima da mesma zona, uma secção com algum movimento e já com algum calibre, a opção foi tentar aproveita-la para uma nova árvore. Um shohin. Por isso, no fim da primavera, mais um enraizamento aéreo foi tentado. Hoje, já com o verão a chegar ao fim, foi tempo de ver os resultados.

Como a operação resultou, a parte superior foi cortada. O corte, o mais preciso e limpo possível, faz a diagonal entre o ramo da esquerda e o futuro ápice.
O ramo da direita, o primeiro, será auto-enxertado no próximo ano. uma das guias já foi aramada para se fixar, mais ou menos, na zona pretendida.
De lado, ficou um "rebuçado" pronto para desembrulhar com uma nova árvore lá dentro.
O desenvolvimento das novas raízes parece ter corrido bem.
E por isso, foi só planta-lo num vaso de treino. E assim nasce mais um futuro bonsai.
Aqui fica o pequeno ao lado do pequeno ;)

10.9.10

Bonsaido

Já em Lisboa. Depois de um dia e meio de viagem. O efeito do jat-leg volta.
Metade da cabeça ainda está do outro lado do mundo. No Japão. Surpreendente até ao último segundo. Quando já pensava que os últimos dias seriam uma continuação dos anteriores, de repente Oyokata volta a trocar-me as voltas. Diz “Nós agora somos um grupo. Estamos juntos. Quando um cliente chega dizemos todos: konishiwa! Juntos.”. Na altura não percebi bem o sentido destas palavras... pensei “Sim, eu sei, saúdo sempre os clientes desde o primeiro dia... é uma das regras de ouro de Taisho-en... será que falhei algum? Será uma reprimenda?... mas ele nem parecia chateado...”. Nos dias que se seguiram, percebi. Todos me passaram a tratar como um “aluno da casa”, “Old Student” como diz Asanuma. Um Old Student é aquele que já sabe “The Taisho-en way”. Não precisa que lhe digam as tarefas. Sabe o que tem que fazer e faz. Para dar um exemplo, anteriormente, diziam-me quando era altura de regar e era-me atribuída uma área. Desde esse momento isso nunca mais aconteceu. Passei a regar onde sabia que era preciso. A equipa trabalha em sintonia e tudo se resume a pequenos gestos de confirmação. Mesmo o trabalho com as árvores no workshop mudou. Oyokata deixou de me explicar tudo. Dizia-me qual a árvore e o que era para fazer e depois voltava para ajustar os pormenores. Em alguns momentos até permitiu que trabalhasse com ele. Passaram a falar-me de outros estudantes como se eu os conhecesse perfeitamente. Um dia, pedi a Assanuma ajuda para embalar a única árvore que consegui trazer comigo (ele é craque a fazer isso) e no meio de um sorriso veio a resposta “No...no...no... New students I help. Old students do it them selves”. Apesar de aumentar muito a responsabilidade, esta súbita mudança fez com que o final da minha estadia fosse muito gratificante.
No último dia, como partia para o Aeroporto depois do almoço, já não era suposto fazer nada. Como Oyocata não tinha estado no dia anterior, fui cedo para Taisho-en. Ainda tinha um grande Goyomatsu (o último do post anterior) que ele me tinha deixado para fazer para lhe mostrar. Um toque daqui, outro dali... “Ok, put back”. Depois mandou-me ir seleccionar mais dois shimpaku para o Manoel trabalhar, depois a rega... “Épá... estou quase a ir-me embora e isto continua como se nada fosse?”. É que um aluno, mesmo que de partida, enquanto estiver em Taisho-en continua a participar normalmente no dia-a-dia. Desde de que não vá todo sujo para o comboio... lol.
Ao almoço, Oyocata disse-me: “Agora, quando voltares para Portugal, podes começar a ensinar. Dar aulas a grupos. Pensa nisso.”. Já na despedida, depois da tradicional “foto de família”, vieram as palavras que todos os alunos querem ouvir: “Come back. If you feel like, come back”.
Da esquerda para a direita: Tayga, João, Oyakata, Chu, Asanuma e Manoel.

“Do”. Em japonês é o caminho e maneira como o fazemos, “the way”. Nas artes tradicionais é um conceito sempre presente fazendo por vezes parte do nome, como em Judo ou Kendo. My Bonsaido. Pois o meu caminho voltou a mudar. Desta vez profundamente. Mesmo sabendo que isso iria acontecer, nunca pensei que fosse de forma tão abrupta. Como uma Caixa de Pandora. Agora já está aberta. Não à volta. A vontade de regressar a Portugal caminha, ao mesmo passo, com a vontade de continuar em Taisho-en. Esta é a minha nova “segunda casa”. É lá que está o meu mestre, Nobuichi Urushibata, um dos grandes nomes do bonsai da actualidade, vencedor por várias vezes do Kokufu Ten. O meu Bonsaido passa agora por aqui. No fazer e no sentir.
Sayonara.

7.9.10

The last mile

Já perto do regresso a casa. Um mês parece muito, mas em Taisho-en, passa num instante. O trabalho, as tarefas, não dão tempo para ver o tempo passar. Por vezes, coisas tão simples como a rega, as ferramentas ou a adubação, transformam-se. Desmultiplicam-se em dezenas de variantes. Pequenos micro-cosmos de saber que variam de dia para dia. Taisho-en é assim. Um sítio que se transforma todos os dias. E isso sente-se. Nas árvores e nos alunos.
Entretanto, chegou um novo estudante. Um espanhol chamado Manoel. O dever do aluno mais antigo presente, no caso eu, é de ajudar e ensinar ao recém chegado “the Taisho-en way”. Assim como o Jarek fez comigo. É nestes momentos que nos vamos começando a dar conta de tudo o que aprendemos. Carradas e carradas de pequenos pormenores de informação. Penas cápsulas de saber que nos transformam. No olhar e no sentir.
Aqui ficam mais algumas imagens de alguns dos trabalhos que tenho feito.

Vários shimpaku grandes. Trabalho de limpeza, aramação e estilização.

Shimpaku - Antes e depois.

Tridente - limpeza e poda.

Goyomatsu - Trabalho com arame grosso.

Goyomatsu - Aramação fina.

Shimpaku - Antes e depois.

1.9.10

Bonsai Babies

Esta é a grande especialidade de Taishi-en. Shohin. Bonsai até ao limite de 22cm. Como diz Asanuma “I only make babies. Small bonsai.” E, de facto, é o que ele faz todos os dias. Sete dias por semana. Todos os dias do Mês. Ver Asanuma a trabalhar é um previlégio. Parece trabalho de relojoeiro. São às centenas. Seria impossível de mostrar todos. Aqui ficam alguns dos “babies” de Taisho-en.