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28.8.10

Interesting

Já recebi algumas mensagens a dizer “Então mas é só bonsai?... E as vistas... e outras coisas...”. Bom, aqui fica uma foto panorâmica de Shizuoka pela manhã. Ao fundo as montanhas (no sentido contrario está o monte Fuji... mas só dá para ver de Inverno quando os dias estão mais limpos). No primeiro plano, os campos de chá. Aqui existem campos destes por todo o lado. Shizuoka é um dos grandes produtores do famoso chá verde japonês.
Depois deste pequeno momento romântico/pastoril, vamos mas é trabalhar que já se faz tarde... hehehe... Já são quase 7h da manhã... muita coisa para fazer...

Depois de um bom shimpaku vem sempre outro. Como diz Oyakata, “São todos bons”. Mas há uns que ainda são “mais bons” que outros.
Para trabalhar, esta árvore.
Oyokata, neste dia, estava muito bem disposto (coisa que acontece para aí... uma vez por semana... lol). Quando é assim, é uma verdadeira roda viva. Disse-me para tirar o arame e limpar só a folhagem. Foi o que eu fiz. Depois sentou-se no meu lugar, alicate de corte na mão e pimba. Dois ou três ramos a menos. “New front. Continue!”. Estava eu a acabar o sashieda, quando foi hora da rega. Voltei e lá estava ele outra vez sentado a rodar a árvore na mesa de trabalho. “Hum... This is interesting”... pegou no giz e toca de marcar os cortes para abrir mais os shari. “New front. Continue!”. Ok, toca a pegar na faca e nas goivas e de volta ao trabalho. Pronto, cá está Oyacata de novo sentado no meu lugar. “This is also interesting... new front!”. A árvore foi mudando de frente umas quantas de vezes... aqui ficam 2 das que me lembro... lol
Depois foi aramar tudo e por no sítio. No fim. Oyakata ainda mudo uns ramos de posição e abriu mais um pouco os jins aqui e ali, e... voltou a mudar ligeiramente a frente. No fim, ficou assim.
Foi uma árvore muito engraçada de trabalhar. De facto, este material tinha várias hipóteses. Vários caminhos para abordar. Interesting!

27.8.10

The one

Calos. É o que eu tenho nos dedos de tanto manipular o arame de cobre. A última semana e pouco, não tenho feito outra coisa. Tirar o arame, limpar a veia viva, limpar a madeira morta, aramar tudo de novo e pôr no sítio. Oyacata é muito exigente. Nunca está bem. Limpas-te muito, limpas-te pouco, este arame está mal, este patamar não está bem, este ramo não é aqui... chega a ser, para um ocidental, desesperante. Nunca está bem, há sempre um erro. Chego a ter que despachar 3 árvores por dia. "Mais depressa" diz ele.
Deshi. Asanuma explicou-me o conceito. Deshi é o aluno. No Japão esta aprendizagem dura pelo menos 5 anos. A tempo inteiro. Não será o meu caso... eu sou um gaijin (estrangeiro). Estar aqui 1 ou 3 meses não faz de mim um Deshi. O único até hoje em Taisho-en foi o Mário Compsta. Pois bem, segundo Asanuma, o Deshi, no primeiro meio ano, limpa, arruma e observa o Oyacata a trabalhar. Aprende assim. Neste tempo, auxilia e pronto. Se o Oyacata precisa de uma ferramenta o Deshi deve saber exactamente qual. E ser muito pronto a chegar com ela. Não tem sido bem assim comigo, eu sou um gaijin de passagem por 1 mês... Mas Oyacata acabou por fazer o mesmo. Dá-me uma árvore para trabalhar, começo por limpá-la e depois ele chega e senta-se no meu lugar. Diz-me sempre para ficar atrás dele para ver o que ele está a fazer. Volta não volta estica a mão. No princípio ainda dizia o nome da ferramenta que queria em inglês... depois ou diz em japonês (já me disse que tenho que saber os nomes de cor) ou então não diz nada. Eu é que tenho que saber, consoante o que ele está a fazer qual a ferramenta. E depressa. Quando ele estica a mão a ferramenta certa tem de estar lá. Ele olha para a árvore e se eu percebo que ele vai cortar, o alicate de corte tem que estar na mão... mas atenção, se tiver arames, o alicate corta arame grande é que tem que estar lá. É a maneira tradicional do ensino aqui no Japão.
Pois bem, por estes dias, já preparado para tudo... mais uma “ensaboadela”.... Oyacata disse “Vem comigo”. Seguimos para o “backyard”. Disse-me para trazer um determinado shimpaku. Nova frente, “não gosto da traseira... amanhã vou a Tokyo, e ficas com este para fazer”. Como o Jarek já não está, fiquei mesmo por minha conta. Normalmente, ele ficava sempre com a responsabilidade de acompanhar o meu trabalho. Entre as regas e as limpezas, tentei fazer o meu melhor. Patamar atrás de patamar. O trabalho até se prolongou por mais 1 hora do que é normal. No dia seguinte, Oyacata voltou e olhou para a árvore. Já à espera de mais uma sessão de “isto não está bem”, saiu uma pergunta diferente. “Alguém te ajudou?”. “Não“ respondi. OK, encontra um lugar para ela aqui no espaço das “big trees”. Não mexeu num único ramo. Nada. Bem sei que a fotografia não mostra bem o trabalho deste bunjin de 60cm de altura. Mas para mim, foi uma das árvores que me deu mais luta, mas também mais satisfação. It’s the one.


24.8.10

Nebari

O calor continua. O trabalho também, principalmente nas coníferas. As folhosas lá estão, paradas, quietas, a crescer. Tirando uma poda ou outra, nada que mereça reportagem. Para “desenjoar”, vou tentar mostrar algumas das folhosas que existem aqui. Como já referi, é muito difícil fotografa-las nesta altura. Estão muito cheias. Parecem quase “cogumelos”. E os prunus até estão um bocado feios... não é a altura deles.
Existe uma zona, logo à entrada, onde estão as folhosas grandes. Por esta altura, na hora da rega, calha-me também essa área. Como não pode ser tudo regado ao mesmo tempo por causa da falta de pressão na água, normalmente quando Oyakata está, ele próprio começa por regar as gardénias, depois eu acabo o “backyard”. A seguir é um “Now, everybody watering”. Assim, tenho oportunidade de olhar um pouco melhor para estes "colossos". São árvores fantásticas! Pena é que não dê para mostra-las bem... mas há um coisa que dá sempre para ver. O nebari.















22.8.10

New menu. New home.

Pois bem, hoje como estou mais descansado, voltou a vontade de escrever. Por isso, este post será uma espécie de 2 em 1. Três dias de uma acentada para recuperar o tempo perdido. Escusado será dizer, que isto não foi tudo o que fiz... foi o que se foi fazendo entre a rega, pelo menos 1 hora 3 vezes por dia, ou outras coisas também pouco cansativas como por pedras de adubo em 300 árvores de seguida... ;) Ah... e as tarefas de limpeza, não esquecer, claro... lol

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Depois de voltas e mais voltas com os shimpaku. Mudámos de prato. E este é servido em tabuleiros de 10 unidades. Passámos então para os Goyomatsu shohin (pinheiro branco). Em dois dias, fui buscar pelo menos uns 5 ou 6 tabuleiros desta iguaria. “Bring another box” diz Oyocata.
São árvores muito pequenas, por isso trabalham-se no colo segurando o vaso entre os joelhos.
De principio, como tarefa foi desaramar. Como já contei e aqui fica uma imagem, as coníferas aqui estão quase sempre aramadas e com o arame a deixar marca.
Depois passámos para a limpeza de agulhas. Estava eu cheio de cuidado, com uma pinça (já para não usar a tesoura...) a retirar cada conjunto de agulhas sempre preocupado com não danificar os novos rebentos, e Oyocata fez mais uma das suas. “O que é que estás a fazer?... Trás cá a árvore!” Pronto lá estava eu a perder tempo... com tanto tabuleiro para a fazer... Pegou no pinheiro, meteu as mãos lá dentro.... e parecia uma debulhadora... hehehe... “You can do this with your eyes closed” e ele estava mesmo a fazer de olhos fechados!
Explicou-me a técnica, e algumas dezenas de goyo’s depois, não se consigo de olhos fechados, mas já é quase em piloto automático. A certa altura já havia pinheiros por todo o lado.
Agora arama este. E aqui é que a coisa começou a complicar. É que estas árvores pequeninas são muito mais difíceis. Está tudo à vista. Num shimpaku maior, um arame a mais ou menos bem colocado... um patamar ligeiramente mais cheio... quase nem se nota. Mas aqui, não há volta a dar. Por isso é correcção atrás de correcção. Este arame... esta colocação, este botão... aqui é que é mesmo difícil.
Aqui ficam alguns exemplos:
Estes shohin levam cerca de 11 anos para chegar até aqui. Mas não é por não crescerem mais, se fossem shuhin levariam o mesmo tempo. Mas, neste caso foram feitos, de semente , para este tamanho.

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E o terceiro dia acordou assim meio encoberto. Oyocata chamou-nos. Vamos beber um café e conversar um bocado. São os últimos dias do Jarek . Depois do café, disse: “O Jarek continua o que está a fazer, e tu vens comigo. Hoje está bom para fazer transplantes”.
Pronto! Aqui, os mais susceptíveis param de ler e passam directamente para os comentários ou voltam no próximo post. Bem sei que estamos em pleno Agosto, mas relembro a nota importante que deixei no segundo capitulo desta viagem. Isto aqui no Japão é diferente. Esta reportagem não é um certificado para se poder fazer o mesmo em outra partes do mundo. Como Portugal. Por exemplo. Dito isto voltemos à história.
Primeiro os vasos. “Bring a box”... Já me começo a habituar a trabalhar “à palete”... lol. Foi muito divertido. Em Taisho-en, há vasos por todo lado. Em prateleiras, debaixo das bancadas, no chão atrás de uma estufa. Ainda por cima, a maioria são Tokoname. De todos os tamanhos, cores e feitios. Foi quase como uma caça ao tesouro, ou melhor, ao vaso. Este sim, este não, estes leva seis... enfim, tabuleiro cheio, e passámos para a zona de transplantes.
Aqui, podemos encontrar a famosa máquina se crivar (ou peneirar, se preferirem) os substratos.
Existem muitas caixas de calibres diferente. Para se ter uma ideia, um saco de akadama fina daqueles que todos conhecem, dá pelo menos 3 calibres diferentes.
Feita a mistura, passamos à acção. “Vai buscar aqueles shimpaku todos que estivemos a trabalhar estes dias.”
Depois, o transplante foi o normal. Retirar o substrato (aqui como as árvores estão em bom solo este “salta” com muita facilidade), poda de raízes para o novo vaso, prender, por substrato novo, e regar e já está. Em 2 horas, entre os dois foram umas 12 árvores. Oyokata, escusado será dizer, faz isto com muita facilidade e rapidez. Aqui fica a imagem da “primeira fornada”.
Perto das 11h parámos. “Agora já está quente demais” disse Oyokata. “Guarda os goiyos”... Se não eram mais uns 20 pinheiros. Vão ter que esperar. Quem sabe amanhã, se o dia voltar a acordar nublado, estes shohin possam ir para a sua nova casa.