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24.8.11

The Little Stump

Recolha - Maio 2009

Cepo, touco, troço, tarolo.
É assim que começam quase todos os bonsai de yamadori. Procura-se o melhor material, prepara-se e escava-se o melhor possível, planta-se num vaso e depois espera-se. Normalmente 2 anos (por vezes mais... raramente menos). E vem a pergunta: "Mas tem mesmo que ser 2 anos?". Eu diria que sim, por dois motivos. Primeiro, porque é o tempo da árvore se adaptar ao vaso, de criar novas raízes e nova rebentação. De ganhar a força necessária para continuar o seu caminho até ser um bonsai. São várias rebentações, fortes e estáveis. Mais do que um ou outro ramo verde aqui e ali, é preciso que a árvore volte a crescer "normalmente" e isso são, geralmente, os tais 2 anos. Esta explicação trás, normalmente, outra pergunta: "Mas se mexer antes, morre?". Não obrigatoriamente. Uma boa parte das vezes não. Mas é aqui, nesta pergunta, que está a grande questão. O mais importante não é se morre ou não... o que me leva ao segundo motivo que, embora menos abordado, é talvez para mim o mais importante. Este tempo de espera, serve principalmente para termos um pré-bonsai nas melhores condições e com todas as hipóteses de desenho em aberto. Mexer antes, é reduzir estes factores. Depois, podemos até decidir "cortar tudo" e recomeçar do zero, mas com uma árvore que vai responder bem e percebendo onde é que estão as zonas mais fortes e mais fracas do conjunto. Perceber este subtil argumento, é a diferença entre trabalhar com "bom material" ou andar sempre com o "coração nas mãos" a tentar recuperar árvores "combalidas";)
Pois bem, este pequeno tarolo de zambujeiro esteve um pouco mais de dois anos a recuperar. Foi o tempo de a árvore encontrar novas linhas de seiva e rebentar com vigor. Neste caso, era mais do que provável que algumas áreas secassem. Foi também o tempo para essas mesmas áreas "amadurecerem ao tempo". Já com a rebentação vigorosa e a lenificar bem, foi tempo dos primeiros trabalhos.

Pré-bonsai - Agosto 2011
Como se pode ver na primeira imagem, era necessário disfarçar o corte direito da serra feito no momento da recolha. Tratando-se de um árvore muito antiga, que já apresentava alguma madeira morta natural, a ideia foi tentar aproveitar as reviravoltas das fibras secas integrando a "nova" madeira com a "antiga". No futuro, depois de "amadurecer no tempo", o trabalho poderá ser ligeiramente re-editado e limpo com jacto de areia.



Depois foi tempo de escolher a frente. Apesar de haverem várias hipóteses, a escolha recaiu naquela que dava uma imagem mas compacta e maciça da árvore. Nesta frente, as veias vivas percorrem a madeira quase no limite da sobrevivência, jogando com uru's e rachas naturais. Apesar de muito baixo e largo (altura: 18cm, nebari; 24cm) este pequeno zambujeiro consegue ter alguma dinâmica, subindo da direita para a esquerda onde lança, mais baixo e destacado, o sachieda.

Foto: Agosto 2011

4 comentários:

Rodrigo Sousa disse...

Viva João..

Mais uma vez magnifica abordagem a um assunto concreto,na minha visão (acho que ainda vou passar bastantes vezes o link desta publicação quando o assunto for as recuperações de algumas espécies de árvores).

Só queria pôr uma "colheradazinha" que penso que tem tudo a ver com este "post" e que estou sempre a "propagandiar".. em algumas especies é quase meio caminho andado na recuperação as guias junto à base,que se tem a tendência de arrancar..
Induzem ao desenvolvimento de raízes fortes e vigorosas para alimentar as guias, quando se vai trabalhar a árvore simplesmente arrancam-se e as raízes continuam a alimentar a planta..Tenho me provado em diversos transplantes.

O trabalho com a madeira está magnifico, a melhor sorte e continuação de publicações desta qualidade.

Cumpr.
Rodrigo

João Pires disse...

Olá Rodrigo,
Obrigado pelo comentário ;)
A tua "colherada" fez-me lembrar uma história da terra do meu pai - Beira Baixa - que conto algumas vezes para dar o exemplo. Por lá, o povo sabe logo quais são as casa dos que não ficam na terra... os que estão de passagem. Pelas oliveiras. Vêm no verão, e podam as oliveiras curtas, para rebentar de novo. depois, partem para o seu destino e as oliveiras começam a rebentar por baixo, pela base, com longas guias, tão fortes que por vezes acabam por retirar energia à parte de cima que caba por morrer... Por isso, pela beira baixa, diz-se que se consegue perceber a casa de quem está por fora pelas oliveiras... mortas por cima e cheias de guias a rebentar junto ao chão.
Bom, tudo isto para dizer, eu cá junto a tua maneira - deixar crescer guias na base para puxar pelas raízes - à maneira da terra do meu pai, ou seja, deixar crescer algumas guias na base, mas qb. O suficiente para acrescentar o tal crescimento das raízes que referes, mas eliminando de forma a equilibrar com o crescimento superior. Parece uma coisa complicada, mas é simples. É só uma questão de observar as nossas árvores ;)
Abr.
João

Luís Cunha disse...

Olá João,

Muito boas as palavras que aqui escreves, um tema que merecia mais debate ;)
Mais um belo projecto que tens em mãos, gosto muito, apesar do tamanho reduzido para Oliveira tem um movimento bem interessante e um jogo de madeira morta com viva com boa dinâmica =) Belo trabalho!
Obrigado por partilhares!!

Boa continuação, grande abraço ;)

João Pires disse...

Olá Luís,

Obrigado pelo comentário ;)
Também sinto que pode vir a ser uma boa oliveirinha no futuro. Larga e baixa. Nestas proporções, O movimento do tronco pouco pode fazer pela dinâmica do conjunto... é aí que a distribuição da massa verde pode ajudar... é mais difícil mas não é impossível.

Abr.
João