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9.12.10

II Congresso Nacional - Balanço

Finalmente parou de chover. Agarro a máquina fotográfica e vou para o jardim. Tento aproveitar os primeiros raios de sol para bater umas fotos aqui para o blog. Por incrível que pareça, durante os 2 dias do congresso, devido às alterações de última hora, não consegui tirar uma única foto. Por isso, este post será mais de palavras do que de imagens, mas os leitores que tiverem curiosidade poderão espreitar algumas fotos do evento no Forum Literati, no Kintal, no As Minhas Histórias e Aventuras de Bonsai, no As Minhas Pequenas Árvores, no The Snail's Blog, no Projectos de Bonsai e na Galeria Fotográfica do Emidio Machado (é só clicar nos links).

Sábado 4 - Primeiro dia.
De manhã cedo, parto com um grupo de amigos em direcção a Setúbal para participar naquele que seria o II Congresso Nacional da Federação Portuguesa de Bonsai. Comigo levo o "Tartaruga", um pequeno Kurumatsu que trouxe comigo de Taisho-en. Este pinheiro, para além de ser o único bonsai que tenho, tem um significado muito especial para mim. Para além de me lembrar tudo o que aprendi quando estive no Japão, lembra-me principalmente para onde tenho ir. É quase como um "farol" que aponta o caminho. Nos dias em que me sinto mais desmotivado ou preguiçoso, lá está ele como que a dizer "Este é o nível a que podes chegar um dia. Toca a trabalhar!". Aqui fica uma foto do "Tartaruga" já a descansar na prateleira depois de ter ganho 1º Prémio da Exposição. O mérito é do Mestre Nobuichi Urushibata que o formou durante 40 anos a partir de uma pequena semente. Eu sou só o seu feliz proprietário;)
Chegados a Setúbal, recebemos a má notícia. O espaço aéreo espanhol estava fechado e por isso o convidado internacional não tinha conseguido viajar para Portugal. Foi de facto uma pena. Já tive oportunidade de assistir a uma demonstração do Mark Neolanders na última EBA e repito foi mesmo uma pena não contar com ele no evento. É um bonsaista muito sábio e talentoso. Ficámos todos a perder. Por isso a organização, que não teve culpa do sucedido teve que improvisar e andar com o programa para a frente. Acordou-se que O Sr. Graf, o Carlos Brandão, o Carlos Costa e eu tentaríamos preencher o programa da parte da tarde. Arranjaram-se algumas árvores e fez-se o melhor possível. A meu ver, correu até bastante bem, tendo em conta que o material não estava preparado para qualquer demonstração e não foi previamente estudado. Garanto que não é fácil trabalhar nestas condições perante uma plateia tão exigente;)

Sobre a Exposição.
Primeiro, gostava de escrever algumas palavras para a organização. Tenho ouvido e lido algumas criticas menos boas sobre o evento. Claro que pode-se sempre fazer melhor, mas só quem já teve que organizar um evento destes, com poucas pessoas a ajudar e sem dinheiro é que sabe. Na última EBA em Zurique, com muito dinheiro e uma organização profissional, também "choveram" criticas... "porque a placa não está no sítio... porque é uma tenda em vez de uma sala...", enfim... para mim o mais importante é que aconteceu. E isto, em Portugal nos tempos que correm, já não é nada mau. Por isso, parabéns à ALB.
Depois, sobre a exposição (que, infelizmente não pude apreciar com calma...lol). É verdade que faltaram alguns nomes e árvores importantes. Mas também é verdade que apareceram muitos novos. Foi bom não ter sido "outra vez as mesmas árvores". É sinal que há mais gente nova a fazer bonsai e com vontade de participar. É sinal que nos jardins e quintais por esse Portugal fora estão a nascer novos projectos e alguns já apareceram neste fim-de-semana. Não conhecia a maioria das árvores que foram expostas e isso, se pensarmos no futuro, só pode ser bom.
Por isso, parabéns a todos os que participaram. Ao José Machado, ao Mário Eusébio, ao Sr. Graf e ao Galileu pelos prémios.

Domingo 5 - Segundo dia.
Ao mesmo tempo que decorria o concurso do Novo Talento, o Carlos Costa e eu fazíamos as nossas demonstrações no auditório (estas sim, que estavam previstas no programa...heheh). O Carlos trouxe um Buxus "massivo". Excelente material de Yamadori. O trabalho feito foi cuidadoso para não por em risco a saúde da árvore, mas deu para perceber que começa um caminho de sucesso até a uma futura exposição.
Já eu, levei a única coisa que tinha disponível nesta altura. Um juniperus que "salvei" de umas obras de um jardim de um amigo no ano passado. A ideia foi tentar mostrar que também se podem fazer coisas "bastante simpáticas" com material mais humilde. Não sei se consegui mas pronto... aqui fica a imagem final (infelizmente não tenho fotos do antes... se por acaso houver por aí uma alma caridosas que tenha por favor mande-me para o jpires007@gmail.com. Agradecia mesmo ;)). Ah... e um obrigado ao Viriato pela ajuda na operação.

Sobre o Novo Talento.
É uma prova tramada. Mexe muito com os sentimentos e as emoções de quem participa. E só por isso, os 4 concorrentes estão de parabéns pela coragem. O Paulo Sampaio, o Rafael Baptista, o Mário Eusébio e o Nuno Encarnação merecem uma grande salva de palmas. Que isto de estar de fora a mandar palpites... "eu fazia assim, eu fazia assado" é muito mais fácil do que andar 3 horas de volta de um "arbusto" a tentar fazer o melhor que se consegue com ele. Infelizmente, no fim, só pode haver um vencedor. Eu que já tive a sorte de estar nas duas situações (como vencedor e como não vencedor... já escrevi algumas vezes sobre isso aqui no blog e no Literati...) sei bem o que é a sensação para quem está ali a dar o litro. Mais uma vez, parabéns aos quatro pela coragem!
O que para mim foi novo foi participar como júri. A sensação não foi das melhores. Talvez por saber bem o que passa quem está lá dentro a dar o melhor. Mesmo não sabendo quem é que fez que árvore... estamos sempre a votar no trabalho de alguém. Pesam-se as virtudes e os defeitos... tenta-se perceber como é que o concorrente deu a volta ao problema. Na verdade, esta seria a frase que melhor resume todos os critérios. Nem sempre a árvore é a melhor, nem sempre o arame está bem colocado, nem sempre poda é a mais feliz... mas no fim, o que fica é qual é a solução mais engenhosa, qual é o desenho mais bem conseguido. E neste caso foi o da árvore nº1. Parabéns ao Paulo Sampaio que estará a representar Portugal no próxima Congresso da EBA na Alemanha. Boa Sorte!

Em jeito de resumo.
Para mim, desde que hajam 2 pessoas a partilhar Bonsai, já é bom. Então se houver uma sala inteira, durante 2 dias, com caras novas, com ideias novas, com amigos novos, então é excelente! Nós portugueses ainda estamos no principio e por isso temos que dar valor ao que temos. Pode parecer pouco mas já é alguma coisa. Por isso, vejo isto de duas maneiras: ou vestimos a pele de "calimeros", coisa que o nosso povo sabe fazer tão bem... sempre a queixar-se... sempre a dizer mal... ou olhamos aqui para o lado para os nossos vizinhos espanhóis e seguimos o seu bom exemplo. Andar para a frente. Fazer acontecer. Eu cá, prefiro a segunda ;)

Vemos-nos em 2011 em Sintra.
Até para o ano:)

12.9.10

Os tridentes

De volta a casa, de volta ao jardim, de volta ao tridente.
Este projecto tem caminhado de forma aparentemente mais lenta. No começo de cada nova etapa, a exigência vai aumentando e surgem alterações à ideia inicial. Depois da reconstrução da base no ano passado, no último inverno voltei a olhar para a árvore. A intenção era de fazer vários auto-enxertos de ramos para compor a estrutura primária. Mas havia uma secção a meio do tronco que não me agradava. Muito recta e cheia de cicatrizes. Aqui fica a imagem dessa altura para se perceber melhor:
Por isso, depois de ponderar, o projecto seria recomeçado abaixo dessa zona. Mas como havia, acima da mesma zona, uma secção com algum movimento e já com algum calibre, a opção foi tentar aproveita-la para uma nova árvore. Um shohin. Por isso, no fim da primavera, mais um enraizamento aéreo foi tentado. Hoje, já com o verão a chegar ao fim, foi tempo de ver os resultados.

Como a operação resultou, a parte superior foi cortada. O corte, o mais preciso e limpo possível, faz a diagonal entre o ramo da esquerda e o futuro ápice.
O ramo da direita, o primeiro, será auto-enxertado no próximo ano. uma das guias já foi aramada para se fixar, mais ou menos, na zona pretendida.
De lado, ficou um "rebuçado" pronto para desembrulhar com uma nova árvore lá dentro.
O desenvolvimento das novas raízes parece ter corrido bem.
E por isso, foi só planta-lo num vaso de treino. E assim nasce mais um futuro bonsai.
Aqui fica o pequeno ao lado do pequeno ;)

10.9.10

Bonsaido

Já em Lisboa. Depois de um dia e meio de viagem. O efeito do jat-leg volta.
Metade da cabeça ainda está do outro lado do mundo. No Japão. Surpreendente até ao último segundo. Quando já pensava que os últimos dias seriam uma continuação dos anteriores, de repente Oyokata volta a trocar-me as voltas. Diz “Nós agora somos um grupo. Estamos juntos. Quando um cliente chega dizemos todos: konishiwa! Juntos.”. Na altura não percebi bem o sentido destas palavras... pensei “Sim, eu sei, saúdo sempre os clientes desde o primeiro dia... é uma das regras de ouro de Taisho-en... será que falhei algum? Será uma reprimenda?... mas ele nem parecia chateado...”. Nos dias que se seguiram, percebi. Todos me passaram a tratar como um “aluno da casa”, “Old Student” como diz Asanuma. Um Old Student é aquele que já sabe “The Taisho-en way”. Não precisa que lhe digam as tarefas. Sabe o que tem que fazer e faz. Para dar um exemplo, anteriormente, diziam-me quando era altura de regar e era-me atribuída uma área. Desde esse momento isso nunca mais aconteceu. Passei a regar onde sabia que era preciso. A equipa trabalha em sintonia e tudo se resume a pequenos gestos de confirmação. Mesmo o trabalho com as árvores no workshop mudou. Oyokata deixou de me explicar tudo. Dizia-me qual a árvore e o que era para fazer e depois voltava para ajustar os pormenores. Em alguns momentos até permitiu que trabalhasse com ele. Passaram a falar-me de outros estudantes como se eu os conhecesse perfeitamente. Um dia, pedi a Assanuma ajuda para embalar a única árvore que consegui trazer comigo (ele é craque a fazer isso) e no meio de um sorriso veio a resposta “No...no...no... New students I help. Old students do it them selves”. Apesar de aumentar muito a responsabilidade, esta súbita mudança fez com que o final da minha estadia fosse muito gratificante.
No último dia, como partia para o Aeroporto depois do almoço, já não era suposto fazer nada. Como Oyocata não tinha estado no dia anterior, fui cedo para Taisho-en. Ainda tinha um grande Goyomatsu (o último do post anterior) que ele me tinha deixado para fazer para lhe mostrar. Um toque daqui, outro dali... “Ok, put back”. Depois mandou-me ir seleccionar mais dois shimpaku para o Manoel trabalhar, depois a rega... “Épá... estou quase a ir-me embora e isto continua como se nada fosse?”. É que um aluno, mesmo que de partida, enquanto estiver em Taisho-en continua a participar normalmente no dia-a-dia. Desde de que não vá todo sujo para o comboio... lol.
Ao almoço, Oyocata disse-me: “Agora, quando voltares para Portugal, podes começar a ensinar. Dar aulas a grupos. Pensa nisso.”. Já na despedida, depois da tradicional “foto de família”, vieram as palavras que todos os alunos querem ouvir: “Come back. If you feel like, come back”.
Da esquerda para a direita: Tayga, João, Oyakata, Chu, Asanuma e Manoel.

“Do”. Em japonês é o caminho e maneira como o fazemos, “the way”. Nas artes tradicionais é um conceito sempre presente fazendo por vezes parte do nome, como em Judo ou Kendo. My Bonsaido. Pois o meu caminho voltou a mudar. Desta vez profundamente. Mesmo sabendo que isso iria acontecer, nunca pensei que fosse de forma tão abrupta. Como uma Caixa de Pandora. Agora já está aberta. Não à volta. A vontade de regressar a Portugal caminha, ao mesmo passo, com a vontade de continuar em Taisho-en. Esta é a minha nova “segunda casa”. É lá que está o meu mestre, Nobuichi Urushibata, um dos grandes nomes do bonsai da actualidade, vencedor por várias vezes do Kokufu Ten. O meu Bonsaido passa agora por aqui. No fazer e no sentir.
Sayonara.

7.9.10

The last mile

Já perto do regresso a casa. Um mês parece muito, mas em Taisho-en, passa num instante. O trabalho, as tarefas, não dão tempo para ver o tempo passar. Por vezes, coisas tão simples como a rega, as ferramentas ou a adubação, transformam-se. Desmultiplicam-se em dezenas de variantes. Pequenos micro-cosmos de saber que variam de dia para dia. Taisho-en é assim. Um sítio que se transforma todos os dias. E isso sente-se. Nas árvores e nos alunos.
Entretanto, chegou um novo estudante. Um espanhol chamado Manoel. O dever do aluno mais antigo presente, no caso eu, é de ajudar e ensinar ao recém chegado “the Taisho-en way”. Assim como o Jarek fez comigo. É nestes momentos que nos vamos começando a dar conta de tudo o que aprendemos. Carradas e carradas de pequenos pormenores de informação. Penas cápsulas de saber que nos transformam. No olhar e no sentir.
Aqui ficam mais algumas imagens de alguns dos trabalhos que tenho feito.

Vários shimpaku grandes. Trabalho de limpeza, aramação e estilização.

Shimpaku - Antes e depois.

Tridente - limpeza e poda.

Goyomatsu - Trabalho com arame grosso.

Goyomatsu - Aramação fina.

Shimpaku - Antes e depois.

1.9.10

Bonsai Babies

Esta é a grande especialidade de Taishi-en. Shohin. Bonsai até ao limite de 22cm. Como diz Asanuma “I only make babies. Small bonsai.” E, de facto, é o que ele faz todos os dias. Sete dias por semana. Todos os dias do Mês. Ver Asanuma a trabalhar é um previlégio. Parece trabalho de relojoeiro. São às centenas. Seria impossível de mostrar todos. Aqui ficam alguns dos “babies” de Taisho-en.