Do outro lado da bancada. Pela primeira vez. Completamente diferente!
Quando pensei nesta demonstração, lembrei-me das vezes que me sentei no público e ficava aquela sensação de que não havia dialogo. Passavam-se muitas coisas interessantes, mas as conversas, os porquês, as respostas, quase nunca aconteciam. Pensei que desta vez, podia ser diferente. Por isso, decidi levar o material quase em bruto (só com a limpeza da casca e nada mais) e explicar, conforme ia trabalhando, o que é que estava a acontecer. Responder às perguntas, "abrir" a conversa. E, foi isso mesmo que aconteceu. Por um lado, foi excelente. Conversa aberta. Participação. Tudo aquilo que sempre senti falta nas demonstrações que vi. Por outro, o tempo ia passando... agora consigo perceber as "explicações curtas", o silêncio.
A árvore que tinha para trabalhar, era material para demorar um dia inteiro. Felizmente, durante as quatro horas, os amigos foram participando, quer na limpeza da massa verde, quer na aramação. Por vezes, éramos 3 pessoas de volta da árvore. Também já consigo perceber a importância dos "assistentes" que tantas vezes vemos nas demos profissionais. Sem a sua preciosa ajuda seria impossível acabar a tempo. Neste caso, foram os amigos (que é bem melhor!). Gustavo, Luis, Luiz e Ricardo, obrigado! O tempo foi passando a grande velocidade. Já quase sem luz, deu para colocar a massa verde mais ou menos como tinha planeado. De forma espontânea sem tempo para olhar duas vezes (nota mental importante: da próxima, se houver próxima, parar 5 ou 10 minutos para "limpar" a imagem que estou a construir e voltar a olhar de novo com a cabeça limpa. Na EBA, vi os profissionais a fazer isso várias vezes e ficava o pessoal todo "Olha... então agora o "gajo" vai-se embora?... então não termina?... e isto fica assim?...". Hoje consigo perceber o porquê). Mas também deu tempo para discutir com os amigos o resultado. Aqui, como quase sempre, a opinião objectiva do Gustavo foi importante.
Hoje de manhã, já com a cabeça limpa, voltei a olhar para a árvore e. sem alteram a estrutura, reconstruí alguns dos pormenores da massa verde que não estavam, de facto, da melhor forma.
Concluindo: foi mais uma experiência espectacular. Deu para aprender muito. Ainda por cima, com a sorte de estar rodeado de amigos.
Sobre a árvore.
Tratava-se de um Juniperus de viveiro, de tronco recto e sem grandes pormenores a destacar. Uma árvore banal (já se vai tornando hábito..lol). Tinha sido trabalhada há alguns anos de forma muito básica (inclina para a esquerda, ramo para um lado, ramo para o o outro, para traz...) e ficou assim a crescer, sem voltar a ser tocado. Tratava-se de uma variedade que já tinha trabalhado e por isso sabia que a ramificação era pouco compacta, fazendo com que algum "Spaguetti" fosse inevitável. Ao imaginar o design final, a opção foi manter o estilo inclinado, rodando a frente e levantando mais o conjunto para lhe dar mais altura. O ponto focal (ou o factor de diferença, ou como eu gosto de lhe chamar, a Alma da árvore) é o ângulo extremamente agudo entre o tronco e o primeiro ramo. Os nossos olhos, saindo da base, sobem o tronco quase recto e ligeiramente inclinado, embora com algum movimento de veias e pormenores de jin's e caiem, quase abruptamente, descendo pelo sashieda.
Aqui fica o antes e o depois:
Juniperus de viveiro. Estilo: Shakan. Altura (sem o vaso) 70 cm.