Páginas

21.6.10

Exposição anual - Clube Bonsai Sintra II - Demonstração

Do outro lado da bancada. Pela primeira vez. Completamente diferente!
Quando pensei nesta demonstração, lembrei-me das vezes que me sentei no público e ficava aquela sensação de que não havia dialogo. Passavam-se muitas coisas interessantes, mas as conversas, os porquês, as respostas, quase nunca aconteciam. Pensei que desta vez, podia ser diferente. Por isso, decidi levar o material quase em bruto (só com a limpeza da casca e nada mais) e explicar, conforme ia trabalhando, o que é que estava a acontecer. Responder às perguntas, "abrir" a conversa. E, foi isso mesmo que aconteceu. Por um lado, foi excelente. Conversa aberta. Participação. Tudo aquilo que sempre senti falta nas demonstrações que vi. Por outro, o tempo ia passando... agora consigo perceber as "explicações curtas", o silêncio.
A árvore que tinha para trabalhar, era material para demorar um dia inteiro. Felizmente, durante as quatro horas, os amigos foram participando, quer na limpeza da massa verde, quer na aramação. Por vezes, éramos 3 pessoas de volta da árvore. Também já consigo perceber a importância dos "assistentes" que tantas vezes vemos nas demos profissionais. Sem a sua preciosa ajuda seria impossível acabar a tempo. Neste caso, foram os amigos (que é bem melhor!). Gustavo, Luis, Luiz e Ricardo, obrigado! O tempo foi passando a grande velocidade. Já quase sem luz, deu para colocar a massa verde mais ou menos como tinha planeado. De forma espontânea sem tempo para olhar duas vezes (nota mental importante: da próxima, se houver próxima, parar 5 ou 10 minutos para "limpar" a imagem que estou a construir e voltar a olhar de novo com a cabeça limpa. Na EBA, vi os profissionais a fazer isso várias vezes e ficava o pessoal todo "Olha... então agora o "gajo" vai-se embora?... então não termina?... e isto fica assim?...". Hoje consigo perceber o porquê). Mas também deu tempo para discutir com os amigos o resultado. Aqui, como quase sempre, a opinião objectiva do Gustavo foi importante.
Hoje de manhã, já com a cabeça limpa, voltei a olhar para a árvore e. sem alteram a estrutura, reconstruí alguns dos pormenores da massa verde que não estavam, de facto, da melhor forma.
Concluindo: foi mais uma experiência espectacular. Deu para aprender muito. Ainda por cima, com a sorte de estar rodeado de amigos.

Sobre a árvore.
Tratava-se de um Juniperus de viveiro, de tronco recto e sem grandes pormenores a destacar. Uma árvore banal (já se vai tornando hábito..lol). Tinha sido trabalhada há alguns anos de forma muito básica (inclina para a esquerda, ramo para um lado, ramo para o o outro, para traz...) e ficou assim a crescer, sem voltar a ser tocado. Tratava-se de uma variedade que já tinha trabalhado e por isso sabia que a ramificação era pouco compacta, fazendo com que algum "Spaguetti" fosse inevitável. Ao imaginar o design final, a opção foi manter o estilo inclinado, rodando a frente e levantando mais o conjunto para lhe dar mais altura. O ponto focal (ou o factor de diferença, ou como eu gosto de lhe chamar, a Alma da árvore) é o ângulo extremamente agudo entre o tronco e o primeiro ramo. Os nossos olhos, saindo da base, sobem o tronco quase recto e ligeiramente inclinado, embora com algum movimento de veias e pormenores de jin's e caiem, quase abruptamente, descendo pelo sashieda.
Aqui fica o antes e o depois:

Juniperus de viveiro. Estilo: Shakan. Altura (sem o vaso) 70 cm.


Exposição anual - Clube Bonsai Sintra

No passado fim-de-semana decorreu mais uma exposição do Clube Bonsai Sintra. Foi a segunda vez que participei e, em forma de resumo achei que, comparando com a anterior, o nível das árvores subiu consideravelmente. Mais sócios a expor, mais variedade, mais qualidade. Para mim, que comecei à pouco tempo, foi mais uma experiência fantástica. Ver o trabalho dos amigos, que fui acompanhando, a chegar a bom nível. Como é fácil de perceber, ainda não tenho nenhum projecto que pudesse participar na exposição principal... a seu tempo aparecerá. Mas, por outro lado, foi uma experiência nova para mim. Workshop no Sábado e demonstração no Domingo. "Tiro o chapéu" à direcção do clube... é malta que gosta de correr riscos... hehehe...
Posso dizer que foi, apesar de muito cansativo, muito acima das minhas expectativas.
Aqui ficam algumas fotos do evento, deixadas na minha máquina por um amigo enquanto eu estava na demonstração. A luz já não era boa e por isso, quase todas têm flash... De certeza que vão aparecer fotos melhores mas, por agora, dá para ter uma primeira ideia. Não estão por ordem nenhuma em especial... é a que saiu da máquina ;)
Alecrim - Márcio Meruje - Menção honrosa

Pinheiro Silvestre - Márcio Meruje - Melhor Conífera

Oliveira Silvestre - Gustavo Duarte - Menção Honrosa

Pinheiro Branco - Luiz Fogolin - Melhor Shohin

Juniperus Itoigawa - Luiz Fogolin - Melhor Árvore

Carpinus - Luiz Fogolin - Melhor Folhosa


Sobreiro - Luiz Fogolin - Menção Honrosa

17.6.10

Fecha-se uma porta, abre-se uma janela


Nota importante: Tinha aqui escrito anteriormente que a árvore portuguesa estava classificada no grupo da frente. Foi uma informação que me chegou, supostamente, vinda de uma pessoa da organização. Isto aconteceu durante a tarde de Sábado. Várias pessoas vieram-me dar os parabéns, entre elas um dos concorrentes que também tinha essa informação. Também tinha a informação que a Espanha era o terceiro lugar (para mim mais do que merecido) mas afinal foi o país organizador: A Suiça. Entretanto, apareceu num forum uma foto de uma folha de classificação afixada no Domingo que contradiz a informação que me tinha chegado. Francamente, não consigo explicar o porquê desta informação e quero acreditar que só pode ter sido um mal entendido. Para evitar confusões, decidi alterar este texto. Peço desculpa aos leitores deste espaço pelo ocorrido.

Fim de capitulo.
Faz agora 2 anos estava eu em Sintra a comprar um pequeno ulmeiro e a começar uma nova aventura que me levou, a uma velocidade estonteante, até ao palco europeu do Bonsai: a Convenção da EBA em Zurique. Daqui para a frente, apesar de ter o título até ao próximo congresso da FPB, o novo talento acabou. Não existem mais provas, não vou concorrer a mais nada.

Sobre a prova.
A tensão era alta. Muito alta. Por mais que que se tenha capacidade de abstracção era incontornavel. Lembro-me do meu colega do lado, ainda antes de começar, perguntar: "Estás nervoso?". Mestres a dar os últimos conselhos aos alunos, presidentes das federações a desejar boa sorte, máquinas fotográficas a disparar... enfim, a coisa era mesmo séria.
O nível era altíssimo. Para se ter uma ideia, o concorrente que ficou em terceiro lugar tinha árvores na exposição principal.
O material era de primeira. Juniperus Itoigawa de viveiro importados do Japão, todos muito idênticos. Não havia espaço para grandes "truques". Quase todos os concorrentes mostraram que conheciam bem as regras: descobrir o nebari, limpar a casca, não deixar jin´s mal acabados, marcar os shari's a fazer no futuro... a coisa passava por, primeiro tomar decisões, depois pelos pequenos pormenores. O relógio corria. De um lado ouvia "Corto ou não? não sei se é a decisão certa..." do outro, o concorrente tentava descomprimir entoando uns "Yop! Yop! Yop!". Mais fotos, mais gente... a certa altura, as decisões estavam tomadas e já não havia nada a fazer. Era tempo para os pormenores. De um lado ouvia "Já não consigo fazer nada de jeito com isto... só espero que acabe rápido..." e alguém que responde "Estás aqui... aproveita!".
Quanto a mim, senti que a coisa até estava a correr bem. Consegui manter a calma e concentrei-me para tomar as decisões. Foi nos pequenos pormenores que senti que podia ter feito melhor. Cobre... arame de cobre. Já tinha trabalhado algumas variedades de juniperus, mas nunca o Itoigawa. Por um lado é muito flexível, por outro é muito resistente. Na aramação média, tive que cortar e voltar a aramar mais grosso pelo menos 2 vezes. Na aramação fina, o arame de alumínio de 1mm não chegava e o tamanho a cima já era impraticável. De facto, o cobre permitia a firmeza na colocação dos leques de massa verde e a este nível a apresentação final fazia toda a diferença. Não serve de desculpa, mas serve de lição.

Sobre o evento.
Sendo a primeira experiência internacional foi, como é fácil de adivinhar, fantástico! Apesar de algumas criticas menos positivas que têm aparecido na net, a exposição estava de facto muito bem montada. Os exemplares, na grande maioria coníferas, eram excelentes e o formato absolutamente inovador. Mas, para mim, o mais marcante foi poder partilhar esses dias com figuras que só conhecia das revistas. A energia da "Scudra Azurra"... Enrrico Savini, Ivo Saporiti e seus pares, partilhar o banco do autocarro com o Thierry Font ou com o John Armitage, "Bom dia Sr. Walter Pall!"... Foi uma sensação única. Sentir-me parte, mesmo que por uns dias, da família do bonsai europeu. Fica o desejo e a intenção de repetir.

De volta a Lisboa e ao meu jardim, olhei para as minhas árvores e, ao contrário do famoso "vou pegar fogo a estes pauzinhos todos", disse: "Rapaziada, toca a crescer! Temos muito trabalho pela frente!"

Principio de capitulo.

P.S. - Um forte abraço para todos os amigos que mandaram mensagens, mails, sms's... Obrigado! Foi bom ler as vossas palavras. Um forte abraço também para os amigos portugueses que estiveram em Zurique. Foram bons momentos! Mandem-me lá as fotos da prova (jpires007@gmail.com) ;)

P.S.1 - Um "Parabéns!!!" reforçado (já que tive oportunidade de dar pessoalmente na gala) ao José Machado e ao pequeno Henrique Machado (que é o dono da árvore) pelo "Merit Award" atribuído pela EBA ao seu Zambujeiro.

15.6.10

EBA - New Talent Competition - Fotos

OK. As primeiras fotos do concurso já chegaram (Obrigado Mariana!)
Aqui ficam as imagens do ambiente e a foto (é a última) do resultado final.